AUGUSTO MACHADO: UMA PÉROLA DA GERAÇÃO DE 70

5 de Outubro, 17h | Palácio dos Lilases - Jardim de Inverno

Em meados do séc. XX, Luís de Freitas Branco chamava a atenção para a existência de um criador que, tendo estudado em Paris com Lavignac, se revelava um profissional de primeira água. Tratava-se de Augusto Machado, homem engajado com os princípios da Geração de 70 e amigo pessoal de Eça de Queiroz.

A sua preocupação em aproximar a linguagem musical erudita do cidadão comum, assim como a de trazer para o cenário dramático musical temas do quotidiano de então ou mesmo episódios da História nacional, com o devido cunho de crítica social tão cara à Geração de 70, não poderia deixar de ser evidenciada no ano em que celebramos o primeiro centenário da sua morte.

No presente programa tomaremos contacto com alguma da sua produção vocal, da qual se denota o requinte e domínio das técnicas de composição.

Repertório completo do Concerto

  • Récit et Cantabile

    LAURIANE

    En vain pour dissiper l’angoisse qui m’assiège,

    Seigneur, j’ai crié jusqu’à vous.

    Dans l’ombre, autour de moi, je sens toujours le piège

    Et sous un vague effroi, fléchissent mes genoux,

    Hélas ! pour affermir mon âme.

    Que n’est-tu près de moi, généreux inconnu,

    Dont l’obscur dévouement a toujours soutenu

    La malheureuse et faible femme !

    Pourquoi faut-il qu’une fatale loi,

    T’empêchant d’élever tes regards jusqu’à moi,

    T’ait plongé dans la nuit lorsque je suis au faîte ?

    J’aurais pu t’aimer, ô poète.

    Que dis-je…j’aurais pu…je t’aime… C’est en vain

    Que je voudrais le cacher à moi-même :

    Je t’aime, Jovelin, je t’aime !

    Ami, la fortune marâtre

    Ne sourit pas à ton berceau.

    Pour toi j’ai senti mon cœur battre,

    Car Dieu t’avait fait grand et beau.

    D’autres ont la richesse unie

    A la puissance, un nom, de l’or.

    Ta richesse à toi, ton trésor,

    C’est ton âme, c’est ton génie.

    Je sais que la douleur

    Ta fait le front pâle et la lèvre blême ;

    Mais ta beauté c’est ton malheur

    Et c’est pour cela que je t’aime.

  • Recitativo e Cantabile

    LAURIANE

    Em vão para dissipar a angústia que me assola,

    Senhor, por ti chamei.

    Nas sombras, à minha volta, sinto permanente uma armadilha

    E os meus joelhos tremem por um vago temor,

    Ai de mim! ao dar força à minha alma.

    Porque não estás perto de mim, generoso desconhecido,

    Cuja obscura dedicação sempre apoiou

    Esta pobre e fraca mulher!

    Porque tem uma terrível lei,

    Te impedindo de erguer para mim o teu olhar,

    De te afundar nas trevas se eu estou no aqui num alto?

    Poderia ter-te amado, poeta.

    Que digo… poderia… Eu amo-te…

    Em vão o tento esconder a mim mesma:

    Amo-te, Jovelin, amo-te!

    Meu amigo, a sorte madrasta

    Não te sorriu à nascença.

    Por ti sinto o meu coração bater

    Porque Deus te fez grande e belo.

    Outros são ricos,

    Poderosos, bem-nascidos, dinheiro.

    A tua riqueza

    É a tua alma, o teu génio.

    Sei que o sofrimento

    Te fez pálida a tez, lívido o lábio;

    Mas a tua beleza é a tua dor

    E é por isso que eu te amo.

  • Aria

    MORO

    Fidati a me ! Insensato al par degli altri

    Che qui si chiaman scaltri,

    Tu al mio laccio cadrai. Tutti vi abborro,

    O di mia patria infami

    Persecutori! Voi

    Carico di catene

    Al deserto natio tolto mi avete,

    E sulla fede mia contar potete?

    Stolti del par che iniqui…

    Dal dì ch’io sanguinai

    Sotto la sforza dei vostri aguzzini,

    Sempre dal cor gridai:

    Maledizione a voi, ladri, assassini!

    O razza mia dannata,

    Oppressa e calpestata,

    Di tue sventure il vindice

    Tremendo io qui sarò.

    Di questi rei potenti

    Io soffierò nell’ire,

    Qui scorrere a torrenti

    Il sangue lor vedrò.

    Nel grido lamentevole,

    Nell’ansia dei morenti,

    In terra anch’io di gaudio

    Un’ora alfin avrò.

  • Aria

    MORO

    Confia em mim! Insensato como os outros

    Que aqui se julgam astutos,

    Tu cairás nas minhas rerdes! Odeio-vos

    Infames carrascos

    Da minha pátria! Vós,

    Carregado de correntes,

    Me arrancastes ao meu nativo deserto,

    E quereis contar na minha fidelidade?

    Sois tão tontos quanto malvados…

    Desde o dia em que sangrei

    Sob o jugo das vossas prisões

    Sempre do fundo do coração gritei:

    Malditos sejam, ladrões, assassinos!

    Ó raça minha, amaldiçoada,

    Oprimida e espezinhada,

    Das tuas desventuras serei

    O tremendo vingador.

    Atiçarei as iras

    Destes ímpios poderosos.

    Aqui verei correr

    O sangue deles em rios.

    E por entre os seus gritos de dor,

    Nos tormentos da sua morte,

    Também eu por fim neste mundo

    Terei uma hora de felicidade.

  • Trasse al bosco nel verno un cavalier

    LISA

    Trasse al bosco nel verno un cavalier.

    Tetro era il cielo e brullo il nudo suol.

    Pur su l’erboso margin d’un sentier

    Vivea triste ma paga

    Una romita rosa  l’egra sua vita.

    Rosellina d’inverno senza sol!

    La scorse il cavalier, se n’invaghi.

    Con desiosa man la colse a vol

    E nell sua maggion la custodi.

    Ma presto, ahimè…

    Colà della romita si spense l’egra vita.

    Povera Rosellina senza sol!

  • No Inverno um cavaleiro entrou no bosque

    LISA

    No inverno, um cavaleiro entrou no bosque.

    Tenebroso o céu, despido e árido o chão.

    Mas na beira de um caminho

    Vivia, triste ma feliz,

    Uma rosa solitária a sua triste vida.

    Rosinha de inverno, sem sol!

       

    Avistou-a o cavaleiro, e por ela se apaixonou.

    Com desejo a colheu

    E para a sua casa a levou.

    Mas ai, bem depressa…

    Da solitária se terminou a triste vida.

    Pobre Rosinha sem sol!

  • Volli un giorno ricordarmi

    Del disegno tuo crudel,

    del rigor dei tuoi caprici,

    del martir del tuo rigor.

    E veder quante spine

    Tu cingeste il mio dolore.

    Ma chi puote in questo mondo

    Tutti i duoli contare,

    chi contare può mai le stelle,

    chi i rubini, se luna appar?

  • Quis um dia recordar-me

    Das tuas cruéis intenções,

    Do rigor dos teus caprichos,

    Do martírio do teu rigor,

    E ver com quantos espinhos

    Feriste a minha dor.

    Mas quem poderá deste mundo

    Contar as dores,

    Contar as estrelas, os rubis,

    Quando a lua nasce?

  • Va-t’en, je ne veux plis regarder ton regard,

    Voir tes yeux plus lointains et plus doux que la nue,

    Ta joue où les rayons du jour d’or sont épars,

    Ta bouche qui sourit et qui ment, ta main nue…

    Va-t’en, éloigne toi de mon désir ce soir,

    Tout de toi me ravit, m’irrite et me tourmente,

    Loin de tes bras trompeurs et chers je vais m’asseoir

    Dans la plaine assoupie où se bercent les menthes.

    Et là, oubliant tout du mal que tu me fais,

    J’entendrai, les yeux clos, l’esprit las, le cœur sage

    Sous les hêtres d’argent pleins d’ombre et de reflets,

    La respiration paisible du feuillage…

  • Vai-te, não quero mais ver o teu olhar,

    Os teus longínquos olhos mais suaves que as nuvens,

    A tua face onde se refletem os raios da luz do dia,

    A tua boca que sorri e mente, a tua mão nua…

    Vai-te, esta noite afasta-te do meu desejo.

    Tudo em ti me encanta, irrite e atormenta,

    Vou sentar-me longe dos teus adorados braços enganadores,

    Nos calmos campos onde ondula a menta.

    Aí, esquecendo todo o mal que me fazes,

    Ouvirei, olhos cerrados, espírito fatigado, coração sensato,

    Por entre as árvores prateadas cheias de sombra e reflexos,

    O calmo respirar das folhas…

  • Margarida, minha bela,

    Fresca gentil e louça,

    Desperta, vem á janela

    Vem perfumar a manhã.

    Margarida, terna amante,

    Vem inundar-me d’amor,

    Vem dar-me a luz radiante

    Do teu olhar sedutor.

    Contemos as lindas cousas

    Que acabámos de sonhar;

    Mas, se enfim contar não ousas,

    Esperemos a luz do luar.

    Para chegar do céu á vereda

    Da tua trança cor de trigo

    Tece uma escada de seda

    Que eu irei lá ter contigo.

    Nos teus olhos cor do céu

    Miram-se os anjos de Deus.

    Eu vi-lhes o fulgor divino

    Quando os fitaste nos meus.

  • Pastora da serra,

    da serra da Estrela,

    perco-me por ela.

    Nos seus olhos belos

    tanto Amor se atreve

    que abrasa entre a neve

    quantos ousam vê-los.

    Não solta os cabelos

    Aurora mais bela:

    Perco-me por ela.

    Não teve esta serra,

    no meio da altura,

    mais que a formosura

    que nela encerra.

    Bem céu fica a terra

    que tem tal estrela:

    perco-me por ela.

  • DUETO

    VIOLANTE

    Lá no meu casalito

    Era o tempo das eiras.

    Reclinados na palha

    Em noites de luar,

    Ouvindo o rouxinol

    Nas sombras das balseiras,

    Fitávamos o céu

    E eu punha-me a cantar.

    Dessas lindas canções

    A que mais lhe aprazia

    Acode-me sem cessar

    Dos meus lábios à flor,

    Como agourenta profecia

    Do nosso amor:

    “O amor que lavra fundo

    Em peito que se abriu cedo

    É como a relha do arado

    Que se enterra num penedo.

    Para evitar qualquer dano

    Não há força que lhe valha:

    Ou se quebra a ponta ao ferro

    Ou a pedra se esmigalha.”

    O ferro sem quebra

    Seguiu serenamente,

    Mas a pedra constante

    Em migalhas se fez.

    Ah! pobre peito meu!

    Vingar-me, sim, pudesse

    De quem me enlouqueceu.

    Oh Deus! Escuta a minha prece,

    Que esta vingança não ofende Deus!

    FRANGALHO

    Tal zanga ver não me apetece

    Na pele estar do chichisbéu!

    VIOLANTE

    Com ciúme e com tormento

    Far-lhe-ei pagar o seu desdém!

    FRANGALHO

    Como?

    VIOLANTE

    Neste convento a namorada tem,

    É noviça e francesa.

    FRANGALHO

    Bem conheço!

    VIOLANTE

    Por ela bebe o ar!

    Mas eu qual cavaleiro

    Leal, gentil, travesso,

    Entrei neste mosteiro,

    Tratei de lha roubar.

    E mal sabe ela que malparado

    Tem o amor em mim.

    Mas ele em breve se arrepende,

    Quando essa estrela lhe escapar por fim:

    FRANGALHO

    Por seu amor?

    VIOLANTE

    Por minha causa sim,

    Há de fugir enfim!

    JUNTOS

    Amor baldado embora

    Aquele que a devora

    Amor baldado

    De uma visão falaz.

      

    Mas numa vã quimera

    De ele a paixão não jaz,

    E quanto mais sincera,

    O ciúme o dilacera

    Mais louco e mais voraz.

    JUNTOS

    Por ela bebe o ar!

    Mas eu qual cavaleiro

    Leal, gentil, travesso,

    Entrei neste mosteiro,

    Tratei de lha roubar.

  • COUPLETS DE CORTIÇÕES

    E agora quem me fará cónego?

    Só há S. Bento que me acuda

    Pra nesta perna rechonchuda

    As meias rosa envergar.

    A coisa é para arreliar,

    É de temer esta ressaca.

    Talvez voltando a casaca

    As meias possa eu então calçar.

    Cónego, mágica palavra,

    Que bom que é um canonicato!

    Não há para um homem pacato

    Mais invejável posição!

    Cónego, doce palavrão!

    O senhor cónego daqui,

    O senhor cónego de ali,

    Como isto atrai consideração!

    Por a batina do avesso

    Em se tratando de política,

    Prática ao abrigo da crítica,

    Já o fez Caifás a Galileu.

    Assim se trepa ao apogeu

    Voltando o fato no cabido.

    E eu estou aqui estou lá caído,

    Juro a S. Carlos Borromeu!

    Cónego, mágica palavra,

    Que bom que é um canonicato!

    Não há para um homem pacato

    Mais invejável posição!

    Cónego, doce palavrão!

    O senhor cónego daqui,

    O senhor cónego de ali,

    Como isto atrai consideração!

    VALSA DA JOANA

    Ai por causa de uma beijo

    Apanharem-me assim!

    Ai de mim!

    Se tal chega a constar

    Estou perdida,

    Ai de mim!

    Namorados hei tido

    Sem ninguém ter sabido

    E por causa de um beijo.

    Apanharem-me assim

    Ai de mim!

    Às ocultas um beijo se dar

    Que insensato desejo,

    Ai Jesus!

    Raparigas, o exemplo não tomem

    De mim.

    Tenham pejo do beijo de um homem

    Ai por causa de uma beijo

    Apanharem-me assim

    Ai de mim!

  • COUPLETS    

    MERCEDES

    Mas digam lá,

    De saber estou ansiosa,

    É bem cruel o que exigem de mim!

    Que razão misteriosa me obriga a calar enfim?

    DOUTOR

    Oh, que entalação!

    Agora é difícil de explicar.

    Quisera ver-me lá fora.

    Isto vai-me atrapalhar.

    Oh! Que entalação agora,

    Como lhe hei de explicar?

    Com o meu engenho médico, cirúrgico,

    Eu venho tentar neste momento úrgico,

    À bela Marquesinha, primo, demonstrar

    Porque convém abster-se de falar.

    Num organismo como o seu simpático

    Estando a laringe num estado apático,

    Proceder deve com prudência e tacto.

    Poupando o órgão do ar ao contacto.

    Porque a laringe chocando as amídulas

    Com emissões de voz um tanto estrídulas,

    Pode perder a faculdade sónica

    E a mudez tornar-se crónica.

    Tem de calar, ouvir e ser pacífica

    Ora aqui tem a explicação científica.

    MERCEDES

    Mas eu quero falar e tagarelar.

    Doutor tão severo não estou p’ra aturar.

    E na corda bamba terá de dançar.

    Sou mulher, caramba, preciso falar!

    DOUTOR

    Mas sobre o caso estranho e melindroso

    O que dirá a marquesa a seu esposo?

    MERCEDES

    É muito simples: direi…

    Sim, direi…o que direi?

    Com franqueza não sei!

    Difícil, grave e intrincado

    Concordo que este caso é,

    Mas eu conheço o meu José

    E sei que é homem conformado.

    Em vez de ser feroz, brutal,

    Avaro, áspero e rabugento

    É um velho amável e jovial,

    Não entende nada de ciúme.

    Outro qualquer repontaria

    Com este caso grave e delicado.

    Encará-lo-á com filosofia.

    É muito bom homem…coitado!

    A infelicidade de ser muda

    Já não terá que lamentar.

    A razão d’isso não estuda

    Agora, se me ouvir falar.

    Entusiasmado atribuirá

    A minha cura bem depressa

    Ao trambolhão, provado está,

    Ao desastroso caso da caleça.

    Há males pois, que vêm por bem,

    Diz um provérbio velho e ousado.

    E o meu José di-lo-á também,

    É muito bom homem…coitado!

  • COPLAS DE D. IÑIGO

    Es Don Iñigo de Aguasfuertes

    Un hombre cru.

    Pasó trecientos pasapuertes

    A Belzebu.

    Hace en la tierra un calafrio

    Mi sola voz

    Y de las almas que le envio

    Se cansa Diós.

    Yo son Don Iñigo

    Que trayo un león

    En el corazón.

    Se tengo inimigo,

    Se luchan comigo,

    Todo es perdición!

    Se a las fortunas respondiera

    Que amor me dá

    Pronto de celos se muriera

    La humanidá.

    Y los bastardos que yo gerara

    Para crear

    Aúnque de leche, no bastara

    Toda la mar.

    Yo son Don Iñigo

    Que trayo un volcon

    En el corazo.

    Las damas comigo

    No tienen abrigo

    Contra la passion.

  • VALSA DO FOGO

    Em dia aziago rija lufada

    no mundo o fogo pronto apagou.

    E sobre a terra fria, gelada

    imerso em trevas tudo ficou.

    Tristes os homens sem luz vagavam,

    Cegos os homens, tateando na escuridão

    E ansiosamente loucos, tentavam

    À extinta chama dar vida em vão.

    Ao ver dos homens a desesperança,

    Vénus condoída de tanta dor,

    Dos celsos olhos à terra lança

    Rubras centelhas de ardente amor.

    Como uma aurora a terra envolve

    A ardente chama daquele olhar

    Que o frio gelo pronto dissolve

    E as densas trevas faz recuar.

    Desde esse instante sereno e calmo

    Jamais da terra fugiu a luz.

    E em cada ninho, em cada alma

    Todos os dias refulge a flux.

    E como o fogo de que hoje goza

    Trouxe de Vénus o seu fulgor,

    Não há na terra obra grandiosa

    Que não se inspire na luz do amor.

  • DUETINO

    ANATÓLIO

    Pode ser mais ambiciosa!

    Quem do talento a chama tem,

    Possui voz de anjo e é formosa…

    HELENA

    Como o que diz me soa bem…

    ANATÓLIO

    …tem um porvir belo e brilhante,

    Tem as ruidosas ovações

    De uma plateia delirante.

    HELENA

    Oh que prazer, que comoção!

    Que comoções!

    ANATÓLIO

    Basta que apareça em cena

    Ante mil espetadores

    Mil corações logo aliena,

    Entusiasma a sala plena,

    Cria mil admiradores…

    HELENA

    Quero aparecer em cena

    Ante mil espetadores…

    Eis o porvir que me acena!

    ANATÓLIO

    Mil corações logo aliena…

    HELENA

    Dominar a sala plena,

    Fazer mil admiradores…

    Sim, eis a vida que me agrada

    E que quisera abraçar já

    Ser aplaudida, vitoriada,

    ANATÓLIO

    É essa a vida que terá!

    HELENA

    Sentir quisera o gozo estranho

    De ver o meu nome num cartaz

    Com letra assim deste tamanho.

    ANATÓLIO

    Sim, do tamanho que lhe apraz!

    JUNTOS

    ANATÓLIO

    Basta que apareça em cena

    Ante mil espetadores

    Mil corações logo aliena,

    Entusiasma a sala plena,

    Cria mil admiradores…

    Rainha será de cena!

    HELENA

    Quero aparecer em cena

    Ante mil espetadores…

    Eis o porvir que me acena!

    Dominar a sala plena,

    Fazer mil admiradores…

    Ser rainha da cena!

Eduarda Melo soprano

Tiago Matos barítono

João Paulo Santos piano e direção musical

Eduarda Melo é formada em Canto pela Escola Superior de Música e das Artes do Espectáculo do Porto, tendo integrado o Estúdio de Ópera da Casa da Música do Porto e o elenco do CNIPAL em Marseille.

Foi galardoada com o 2º prémio do concurso internacional de canto de Toulouse.

É convidada para numerosos festivais na Europa e já trabalhou com maestros como Marc Minkowski, Jérémie Rohrer, Ton Koopman, Hervé Niquet, Jean-Claude Casadesus, Antonello Allemandi em prestigiadas casas de ópera (Glyndebourne, Marseille, Lille, Nice, Caen, Dijon, Paris, Lisboa). Em ópera destacam-se os papeis de Soeur Constance (Dialogues des Carmelites), Euridice (Orfeo ed Euridice), Corinna (Il Viaggio a Reims), La princesse Laoula (L’Étoile), Rosina (Il Barbiere di Seviglia), Elvira (L’Italiana in Algeri), Norina (Don Pascuale), Musetta (La Bohème), Despina (Cosi Fan Tutte), Erste Dame (Die Zauberflöte), Zerlina (Don Giovanni), Dalinda (Ariodante)  Rinaldo (Armida/Myslivecek), Stéphano (Romeo et Juliette), Frasquita (Carmen), Gabrielle (La Vie Parisienne), Valencienne (La Veuve Joyeuse) e Elle (La voix Humaine).

No âmbito da música contemporânea tem participado em criações de António Pinho Vargas, Nuno Côrte-Real, Luís Tinoco e Nuno da Rocha.

Colabora regularmente com Le Concert de la Loge (Julien Chauvin), Divino Sospiro e Ludovice Ensemble.

Na temporada 2022/2023 destacam-se dois papéis em estreias modernas. A estreia da ópera “Paraíso” de Nuno da Rocha (CCB) e a ópera “Three Lunar Seas” de Joséphine Stephenson (Opéra Grand Avignon).

João Paulo Santos nasceu em Lisboa, em 1959, tendo concluído o curso de piano do Conservatório Nacional desta cidade, na classe de Adriano Jordão.

De 1979 a 1984, estudou em Paris com Aldo Ciccolini.

Ainda em Paris, foi convidado pela direção do Teatro Nacional de São Carlos para, a partir da temporada de 1984/85, desempenhar as funções de Maestro Assistente deste Teatro.

Na temporada de 1987/88, foi convidado para Assistente do então Maestro Titular do Coro, Gianni Beltrami, acumulando estas funções com as que já exercia.

Desde a temporada de 1990/91, desempenha o cargo de Maestro Diretor Titular do Coro do Teatro de São Carlos.

Da sua carreira destaca-se a direção, em 1990, da ópera de William Walton, “The Bear”, para a RTP, no Teatro da Cornucópia, com encenação de Luís Miguel Cintra; em 1994, as óperas “Cânticos para a Remissão da Fome” de António Chagas Rosa e “Let’s make an opera” de Britten; a estreia mundial da ópera “Édipo”, a “Tragédia do Saber” de António Pinho Vargas, na Culturgest; a primeira apresentação em Portugal da obra “Renard” de Stravinsky; a estreia mundial da ópera “Os Dias Levantados” de António Pinho Vargas; um programa inteiramente preenchido com música do século XX (Schnittke, Pousseur e Corghi) e ainda “Les Noces” de Stravinsky. No Teatro Nacional D. Maria II, dirigiu “Sweeney Todd” de Stephen Sondheim. Gravou vários discos, nomeadamente com obras de Erik Satie e Luís de Freitas Branco (EMI classics). Apresenta-se frequentemente em recital, como pianista acompanhador.

Tiago Matos foi recentemente Guglielmo na ópera Così Fan Tutte, de Mozart, no Coliseu do Porto e o sargento Belcore, em L’Elisir d’Amore, de Donizetti. Participou ainda na estreia mundial de Mátria (Fernando Lapa e Eduarda Freitas), sendo Ti Raul e Padre Gusmão. Interpretou ainda as Songs, Drones and Refrains of Death de George Crumb com o Remix Ensemble e regressou ao Coliseu do Porto com a Orquestra Filarmonia das Beiras para apresentar El Retablo del Maese Pedro (Falla) onde veste a pele de Don Quichotte.

Com a Ópera Nacional de Paris, Tiago já foi, entre outros, Fiorello, em Il Barbiere di Siviglia, de Rossini; o protagonista de Don Giovanni, de Mozart; e, mais recentemente, o muito elogiado Frank, em Die Fledermaus, de J. Strauss.

Entre outras interpretações, destaque para Le Dancaïre e Moralès, em Carmen, de Bizet; L’Horloge Comtoise e Le Chat, em L’Enfant et les Sortilèges, de Ravel e Mercutio em Roméo et Juliette de Gounod.

Fundou a Plateia Protagonista Associação, para a promoção da ópera e da música clássica, de onde se destacam os projetos Ri-te como Jacques e Ópera Oh que seca!. Recentemente gravou para a SONY Portugal, juntamente com Paulo Lapa, o álbum ALMO & Júlio Resende, que tem apresentado em concerto em Portugal e Cuba.

Futuramente regressará ao TNSC para integrar o elenco da Trilogia das Barcas (Braga Santos) e ao CCB para a nova produção de Maria da Fonte (Augusto Machado).