OPERETA MARIA DA FONTE (1879)
AUGUSTO MACHADO (1845-1924)
ESTREIA
12 de Novembro de 2023, 17h, Grande Auditório do CCB
14 de Novembro de 2023, 10h30, Grande Auditório do CCB (RÉCITA PARA JOVENS E PESSOAS MAIS VELHAS)
Espetáculo com: Áudio Descrição Tradução em Língua Gestual Portuguesa
PORQUÊ UMA OPERETA?
Depois do trabalho inovador realizado em CORTES DE JÚPITER, onde, pela primeira vez, uma obra vicentina foi encarada como um incunábulo do teatro musicado, afigurou-se lógica a evolução no sentido da recuperação histórica de uma opereta.
Para além de se tratar do modelo mais aproximado do nosso drama em música, assumiu particular importância na vida cultural portuguesa ao longo do séc. XIX, durante o qual as elites burguesas se renderam aos encantos desta tipologia teatral, em grande parte por influência direta dos libretos de autores como Offenbach, que tanto furor vinham fazendo, quer em França, quer em Portugal, aqui em versões devidamente traduzidas para o português.
PORQUÊ A OPERETA “MARIA DA FONTE”?
Falar da Revolta da Maria da Fonte é recordar um dos fenómenos mais importantes da alvorada do Constitucionalismo em Portugal.
Falamos da 1ª e única revolta no feminino da nossa História, uma revolta da mulher minhota, uma revolta local cujo aproveitamento político a catapultou muito rapidamente para uma dimensão nacional, que ainda hoje perdura no nosso imaginário coletivo.
MARIA DA FONTE é uma e muitas mulheres abrindo-nos a oportunidade de convidar a refletir sobre a multifuncionalidade do papel da MULHER, quer no passado, quer hoje, quando tanto há ainda por fazer no domínio das questões de Género e da Igualdade.
O fenómeno MARIA DA FONTE abre as portas à redescoberta da Região do Minho, na senda de um caminho de coesão territorial a partir da nossa herança histórica comum que o LABORATÓRIO DE ÓPERA PORTUGUESA pretende construir de título para título.
“No lugar da Fonte, concelho da Póvoa de Lanhoso, no coração do Minho, existia a que foi a Joana d’arco do Setembrismo. No Minho, como em todas as regiões de estirpe céltica, a Mulher governa a casa e o marido; excede o homem em audácia, em manha, em força; ara o campo e jornadeia com a carrada do milho à frente dos boizinhos louros (…). A vida cruel ensinou-a: é prática, positiva, dura. Odeia tudo o que não soa e tine e tem um culto único - o seu chão. Vai à igreja e venera o senhor abade, mas com os idílios da mocidade a sua religião perdeu a poesia: ficou apenas um rosário seco de superstições, fundas, tenazmente arraigadas. ai de quem lhe bulir ou nos interesses ou no culto! Na igreja ou no chãozinho! (…) A Maria da Fonte tornou-se o símbolo de protestos populares. A imaginação coletiva provou ter ainda plasticidade bastante para criar um mito, uma fada, Joana d’arco antidoutrinária.”
OLIVEIRA MARTINS (1845-1894), “Portugal Contemporâneo”, tomo II, p. 151-155
UMA OPERETA DA GERAÇÃO DE 70
O libreto original da opereta MARIA DA FONTE terá resultado do trabalho conjunto de Batalha Reis (1847-1935), Gervásio Lobato (1850-1895) e João Francisco de Eça Leal (1848-1914).
Tratou-se de uma encomenda de Francisco Palha (1827-1890) para subir à cena no ano de 1879, no Teatro da Trindade.
A sua ligação aos jovens da Geração de 70 era óbvia: a paixão que partilhavam pelo discurso cómico e satírico de criadores como Offenbach, tendo sido um dos principais responsáveis pela disseminação das obras deste no seio da elite burguesa lisboeta.
Efetivamente, após a estreia de “Barba azul”, em 1868 (um ano após a inauguração do teatro), cujo libreto ele mesmo traduziu do francês, vários títulos se seguiram, transformando o Teatro da Trindade no mais procurado, depois do Teatro de São Carlos.
A temática da MARIA DA FONTE encerrava todos os predicados que tanto fascinava este público diletante. Em causa estava uma mulher cuja ação permanecia ainda fresca na memória, dada a proximidade temporal do episódio que protagonizou na aldeia de Fontarcada, corria o ano de 1846. A sua coragem permitia encarnar o papel de heroína, alguém que representava a alma de um povo que se revoltava contra a tirania.
Mas, será que a MARIA DA FONTE escrita por Reis, Lobato e Leal, e musicada por Augusto Machado, todos da Geração de 70, corresponde a este modelo?
Na realidade, teremos de nos contentar com uma resposta relativa, uma vez que não é conhecido o paradeiro do libreto original. Apenas chegaram aos nossos dias 2 manuscritos com os números musicais - uma partitura completa e uma redução para piano - que se encontram depositados na Biblioteca Nacional de Portugal.
DO SEU ENREDO
Dos números constantes dos manuscritos resultam dois enredos externos à revolta minhota de 1846, que se justificarão em função das convenções da época, no que ao modelo de teatro musical diz diretamente respeito. Falamos de uma maranha amorosa entre a própria personagem da MARIA DA FONTE, o seu amante Ludovino (agricultor rico) e a sua irmã, Joana, na qual se desenvolvem várias suspeitas de traição; e de uma conspiração entre o administrador local, Vilar, para enviar rapazes para o exército combater a ralé.
Muito embora a MARIA DA FONTE presente na opereta de Augusto Machado não seja uma heroína com a força de uma Joana d’Arc, apresenta, não obstante, uma certa consciência social. Trata-se de uma personagem de relativa complexidade. Clara na expressão dos seus sentimentos, corajosa nas suas ações, de fortes convicções e pronta a lutar por elas, nomeadamente em relação ao reconhecimento da sua classe social e à identificação daqueles que sobre ela atuam.
Estas características revelam-se de forma evidente ao longo dos números musicais, deixando transparecer o verdadeiro papel funcional da opereta enquanto veículo privilegiado de crítica social.
A receção da opereta no momento da sua estreia, em 1879, parece não ter sido consensual. Na realidade, a REVOLTA DA MARIA DA FONTE estava ainda muito presente, constando ter ficado algum público indignado com alguma ridicularização da personagem que, muito embora a comicidade expectável num espectáculo do género, terá, por ventura, ultrapassado os limites do decoro.
No entanto, a reação à música de Augusto Machado parece ter sido positiva, nomeadamente, e à semelhança do que vinha acontecendo em relação a outras obras dele, o facto de não imitar compositores franceses, como Lecocq ou mesmo Offenbach, apresentando um estilo e linguagem próprios.
EDIÇÃO MUSICAL E DIREÇÃO MUSICAL - JOÃO PAULO SANTOS
LIBRETO MODERNO E ENCENAÇÃO - RICARDO NEVES-NEVES
CORO DO TEATRO NACIONAL DE SÃO CARLOS
ORQUESTRA SINFÓNICA PORTUGUESA
CÁTIA MORESO (Maria da Fonte) ⎮ LUÍS RODRIGUES (Abade Cortições) ⎮ MARCO ALVES DOS SANTOS (Ludovino) ⎮ EDUARDA MELO (Joana) ⎮ INÊS SIMÕES (Perpétua) ⎮ ANDRÉ HENRIQUES (Onofre) ⎮ JOÃO MERINO (Aniceto) ⎮ TIAGO MATOS (Vilar)
Co-produção: APARM-Academia Portuguesa de Artes Musicais, Centro Cultural de Belém, OPART-TNSC, Égide Artes, Teatro do Eléctrico, Culturproject
Parceiros estratégicos: Égide Artes ⎮ Município de Póvoa de Lanhoso